terça-feira, 20 de março de 2018

Encontros de Artes Plásticas de Atibaia – Altos e baixos do maior Salão de Arte da região.

Cartaz/xilogravura de Joaquim Gimenes Salas.
No dia 16 de março de 1968 aconteceu o primeiro Encontro de Artes Plásticas de Atibaia. Os gravuristas Joaquim Gimenes Salas e Bernardo Antunes foram os responsáveis pela iniciativa. Logo na primeira edição muitas pessoas passaram a colaborar: José Roberto Barreto, Oswaldo Barreto Filho, Carmem Zacarias, Brian Gonçalves, Heitor Francisco Mariano, Antônio Pingitori, André Carneiro e outros.  A ideia era criar um salão anual voltado às artes plásticas, mas que reunisse outras linguagens como música, teatro, etc. Daí o nome de “Encontro”. Essa hipótese logo foi descartada, ficando somente nas artes visuais. Durante onze edições, entre os anos de 1968 a 1996, o Encontro aconteceu no Museu Municipal João Batista Conti, único espaço da Prefeitura adequado ao evento naquele período, e foi possível graças ao empenho da primeira diretora do Museu, Sra Yvone Silveira Leite, posteriormente substituída pela Cristina Silveira Gonçalves. Era no Museu que tudo acontecia: As reuniões preparatórias, as inscrições dos trabalhos, o júri de seleção e premiação e por fim a exposição final. Para isso era necessário realocar boa parte do acervo do Museu para dar lugar ao Salão. Era tudo bastante trabalhoso, mas o resultado final surpreendente. O prédio valorizava as obras, dando características únicas aos Encontros. Na época a Feira de Artes da Praça da Republica, que acontecia aos domingos, era o grande aglutinador da classe artística. Foi lá que Gimenes e Bernardo, frequentadores assíduos da Feira, arregimentaram vários artistas, críticos e galeristas para engrossar o evento local. E assim, já na segunda edição, vieram para a cidade artistas como Waldomiro de Deus, Zé Cordeiro, Paulo Mentem, Romildo Paiva e muitos outros, que na época iniciavam suas carreiras e hoje são nomes de expressão no cenário artístico. A apresentação do catálogo foi do cientista e crítico de arte Mario Schenberg. Já na terceira edição, por iniciativa de André Carneiro, Diretor de Cultura e Turismo na época, foi instituído o Prêmio Aquisitivo, dando novo impulso ao Salão. Se por um lado os artistas plásticos do Brasil inteiro sentiam-se estimulados a participar do Salão, em função da possibilidade de ganhar um prêmio em dinheiro, por outro a cidade passou a formar um acervo considerável de obras representativas das diferentes linguagens como pinturas, gravuras, esculturas, etc. E assim os Encontros ganharam fama e prestígio nacional. Também por iniciativa de André Carneiro, a partir de 1970 o Encontro passou a ser realizado em junho, abrindo as festividades de aniversário da cidade e tornando-se por muito tempo a única ação cultural com regularidade no município. O Encontro foi o segundo evento oficializado por lei na cidade, passando a integrar seu calendário cultural. A partir do 12 Encontro de Artes Plásticas, que aconteceu em 2003, sua realização saiu do Museu Municipal João Batista Conti e passou a ser feita pela então Secretaria de Educação e Cultura de Atibaia, abolindo a participação das comissões organizadoras formadas pela sociedade civil. Apesar da obrigatoriedade da sua realização, segundo a lei número 1493, de 1975, os Encontros nunca tiveram a regularidade merecida. Dos cinquenta anos de existência somente vinte e uma edições foram realizadas.  A última em 2012. É uma pena. Com isso a cidade perde uma de suas principais referencias culturais ligadas às artes plásticas. Infelizmente a falta de conhecimento sobre o histórico cultural do município (por parte dos gestores), a desorganização da classe artística, a prioridade em ineditismo dos eventos, e principalmente à falta de uma política cultural estão levando a cidade a perder gradativamente seus principais trunfos. Estamos matando nossa galinha dos ovos de ouro. Hoje poderíamos estar comemorando essa data e, mais uma vez, levando o nome de Atibaia ao país inteiro através de realizações artísticas de qualidade. Mas o que podemos fazer é torcer pela sua volta ou lamentar seu fim. Resultado da gradativa deterioração daquilo que tivemos de mais significativo da alma e da identidade de nosso povo: Sua cultura.

Matéria publicada no jornal E Atibaiense de 17 de março de 2018.
Márcio Zago – Fundador do Garatuja e curador da Semana André Carneiro.




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